Não é uma tarefa fácil definir Animação Sociocultural. Com efeito “o conceito de animação é bastante impreciso. Não existe unanimidade entre os autores” (Quintas e Castaño, 1998:17). Isto parece decorrer do facto de que “cada autor, em função de variáveis tão distintas como o seu posicionamento ideológico, o campo académico ou profissional de onde provém e a própria pertença a grupos ou associações específicas, entre outras, se aproxima de uma delimitação conceptual da animação sociocultural a partir da sua visão particular” (Ucar, 1992:27).
Desse modo, e de entre as múltiplas definições de Animação Sociocultural, parece-nos que a produzida por Ander-Egg (1986:125), e por ele próprio considerada como incompleta, continua a ser um bom ponto de partida. Diz o autor citado que a Animação Sociocultural pode ser entendida como “um conjunto de técnicas sociais que, baseadas numa pedagogia participativa, tem por finalidade promover práticas e actividades voluntárias que, com a participação activa das pessoas, se desenvolvem no seio de um grupo ou comunidade determinada, e se manifestam nos diferentes âmbitos das actividades socioculturais que procuram a melhoria da qualidade de vida”.
Antes de chegar à definição que acabámos de citar, o seu autor chama a atenção para que a Animação Sociocultural é, antes de mais, uma forma de intervir, em que a forma de actuar é mais importante do que os conteúdos. Ou seja, as actividades específicas que se realizam não são o mais importante. O que realmente é relevante são os fins que essas actividades prosseguem e a forma como são postas em prática.
Quanto á forma de actuar, à metodologia que a Animação Sociocultural deve prosseguir nas intervenções, Ander-Egg acentua a importância da participação activa dos destinatários na concretização das intervenções. A este propósito este autor chega a afirmar que “é mais importante que as pessoas participem em actividades socioculturais, ainda que estas tenham deficiências e limitações, do que serem espectadores de representações e actuações profissionais altamente refinadas” (Ander-Egg, 1986:124).
Quando procuramos relacionar Animação Sociocultural e Juventude a primeira questão que podemos colocar é se será necessário direccionar actuações neste domínio especificamente dirigidas aos jovens. Para alguns autores a resposta à questão é afirmativa e justificada, antes de mais, porque “o jovem é um cidadão em transição cujo itinerário pode ser modificado, estimulado, alterado ou dificultado pelas condições em que se desenrola” (Artiaga, 1997). As acções, estímulos ou oportunidades dirigidas aos jovens, no âmbito de uma intervenção em Animação Sociocultural, “têm uma especial importância nos anos da adolescência, porque é ao longo deles que a socialização, a construção da identidade e as dificuldades na integração na sociedade são maiores” (Artiaga, 1997). “A juventude é o período da vida no qual as pessoas realizam a sua inserção na sociedade” segundo afirma Quintana (1993) “mediante três factos: a entrada no trabalho, a constituição de família própria e a participação cívica e política”. Este autor chama a atenção para as dificuldades de inserção social dos jovens decorrentes do prolongamento da juventude a que temos vindo a assistir nas últimas décadas em consequência do prolongamento da escolaridade, da cada vez maior exigência de qualificação profissional e das dificuldades de obtenção do primeiro emprego.
É neste contexto que se justifica ideia de desenvolver projectos e actuações no âmbito da Animação Sociocultural dirigidas especificamente aos jovens com o objectivo geral de facilitar a sua adequada integração social e a transição bem sucedida entre a infância e a idade adulta, envolvendo-os activamente na formulação de respostas adequadas aos seus aos problemas, dificuldades e interesses específicos. Naturalmente que as intervenções neste âmbito, como refere Artiaga (1997), devem discriminar positivamente “os que «transitam» para a vida adulta com maiores dificuldades”.
No entanto, e apesar das ideias defendidas pelos autores citados, e porque a realidade onde trabalhamos, e que como vimos na primeira parte deste trabalho, é caracterizada pelo acentuado envelhecimento da população, especialmente acentuada nos meios rurais onde os problemas de dersertificação humana ganham cada vez mais acuidade leva-nos a considerar que neste contextos poderá fazer mais sentido direccionar actuações integradas, dirigidas a toda a comunidade, ainda que com iniciativas especificamente dirigidas a jovens. Tanto mais, que acreditamos na importância e no valor educativo e social do convívio intergeracional.
Importa, também, ter presente que a categoria idade apenas nos serve para escolher um conjunto da população a dar atenção. No entanto pouco ou nada nos diz sobre as questões que devemos trabalhar, o modo como o devemos fazer ou os locais a partir dos quais devemos produzir as nossas intervenções. Artiaga (1997) chama a atenção para o facto de as escolhas metodológicas nesta área se tornarem ainda mais difíceis quando nos negamos “a definir os jovens através de um rótulo patológico, por associação prévia a problema. Aqui não falamos – e provavelmente em nenhum outro lugar tal deveria ser feito – de delinquentes, de toxicodependentes, de desempregados ou de jovens com perturbações de comportamento, mas sim de jovens (de pessoas definidas por sua condição de adolescente ou de jovem) que em todo o caso passam por situações de dificuldade ou de conflito”.
Artiaga (1997) sugere um esquema assente em três variáveis susceptível de permitir descrever as intervenções em Animação Sociocultural dirigida aos jovens e de permitir escolher sobre quem se deve atender, onde se deve atender e como (quem, de que maneira) se lhes presta atenção. Para o autor referido é importante ter presente, que:
Os «espaços vitais», ou sejam os âmbitos, as actividades, os «tempos» que constituem o dia a dia de um jovem, que lhe permitem uma existência saudável, uma socialização não conflitiva e uma acumular de experiências e conhecimentos determinantes do seu futuro como adulto.
Embora reconheça a dificuldade de subdividir o dia a dia de um jovem em distintos segmentos, já que entre eles existem sempre dependências e interdependências, o autor avança com alguns exemplos susceptíveis de ajudarem a organizar e estruturar possíveis acções para os jovens, como sejam, as relações familiares, as actividades educativas (formais, informais), as relações entre iguais ( o espaço da amizade, o espaço da sexualidade e do amor, o espaço do «associativismo» formal ou informal), desenho do futuro (orientação do processo de transição, acesso á habitação, desenvolvimento das capacidades criadoras, posicionamento perante a realidade social) e os tempos desocupados (ócio, diversão, tempo livre). Um âmbito, um tempo quotidiano, algumas actividades podem ser comuns à maioria dos grupos de jovens. Mas quando fazemos um projecto, quando escolhemos um desses espaços ou âmbitos vitais temos de ter em conta que nem todos eles tem o mesmo específico em todos os grupos e que para certas comunidades jovens alguns desses espaços podem estar empobrecidos, ou deteriorados.
Os «territórios» jovens ou seja simplesmente os lugares onde eles estão, onde vão, onde passam os seus «tempos». Neste âmbito o autor identifica alguns dos territórios: estabelecimentos educativos, territórios para deambular (ruas, praças, jardins), lugares para estar (cafés, centros sociais), lugares para a diversão (bares, discotecas, espaços de concertos), lugares para «fazer« algo (locais de ensaios, ateliers artísticos), lugares para inter-relacionamento (sedes de associações, etc.).
A perspectiva defendida pelo autor no que respeita á escolha dos territórios juvenis onde intervir é simples: onde os jovens estão, numa opção de ir ter com os jovens e de não esperar que sejam eles a vir ter connosco.
As «instâncias» referem-se aos serviços, às áreas da Administração, aos recursos assistenciais, de informação ou de promoção cultural a partir dos quais vamos actuar: quem faz aquilo que acreditamos que se deve fazer e com que recursos. Entre outras questões levantadas neste âmbito pelo autor aquela que nos parece mais relevante é a preocupação de que no conjunto de instituições e de recursos socais, educativos, culturais, desportivos tenham consciência que os jovens existem e adaptam uma parte do seu funcionamento à sua presença e que procurem ir ao encontro deles nos territórios que eles habitualmente ocupam tendo em conta a necessidade de uma atenção especializada que facilite a sua transição para a vida adulta. O mesmo autor que temos vindo a citar chama, depois, a atenção para o facto de uma actuação dirigida a jovens não ser apenas uma questão de decidir disponibilizar um recurso, de instituir um serviço ou uma actividade. E exemplifica a propósito da decisão de abrir ou não uma sala para ensaio de grupos musicais. “Do que se trata é de decidir se concedemos uma importância ao espaço vital do ócio grupal, se isso vai ter algo a ver com a educação não formal, se o vamos oferecer num território escolar, ou num espaço que eles vivam como rua (espaço de anonimato sem intromissão de adultos), num centro cívico desformalizado e algo mais atractivo. Finalmente há que avaliar quem vai actuar. Se concedemos prioridade à relação com o educador de bairro, com o monitor animador, ou, simplesmente com um centro de informação e de reserva de utilização. Em qualquer caso, teremos de definir quem assume a direcção e a coordenação das acções, o orçamento, a avaliação.”.
Sem comentários:
Enviar um comentário