10 outubro 2008

A formação de Animadores Socioculturais em Portugal

No essencial, subscrevo a reflexão do Professor Avelino Bento no artigo "Que relação existe entre a formação superior de animadores sócio-culturais e as suas saídas profissionais?" publicado no blogue Ex-Dra Animação, cuja leitura atenta não posso deixar de recomendar.

Partilho da opinião, por mim já expressa noutros artigos e locais, de que não é razoável coexistirem denominações idênticas (Animadores sócio-culturais) para diferentes níveis de formação: técnicos profissionais e técnicos superiores.

Mas mais do que uma questão de nomenclaturas, importa, também, referir que considero o perfil profissional definido para os alunos que concluem os cursos técnico-profissionais de animação sócio-cultural demasiado abrangente, complexo e teórico, remetendo para competências que, em rigor, dificilmente poderão ser atingidas ao longo dos percursos formativos definidos. Arrisco, mesmo, afirmar que se tais competências fossem efectivamente atingidas talvez tivéssemos de equacionar a manutenção da formação, a nível superior, de animadores sócio-culturais, na medida em que poucas competências adicionais poderiam ser adquiridas em tais cursos. Para aqueles que se interessam por estas temáticas vale mesmo a pena uma leitura atenta do documentos que pode ser descarregado neste endereço, e da qual extraí o que se reproduz, a seguir:

Descrição Geral
O/A Animador/a Sociocultural é o/a profissional qualificado/a apto/a a promover o desenvolvimento sociocultural de grupos e comunidades, organizando, coordenando e/ou desenvolvendo actividades de animação de carácter cultural, educativo, social, lúdico e recreativo.

Actividades Principais

  • Diagnosticar e analisar, em equipas técnicas multidisciplinares, situações de risco e áreas de intervenção sob as quais actuar, relativas ao grupo alvo e ao seu meio envolvente.
  • Planear e implementar, em conjunto com a equipa técnica multidisciplinar, projectos de intervenção sócio-comunitária.
  • Planear, organizar e avaliar actividades de carácter educativo, cultural, desportivo, social, lúdico, turístico e recreativo, em contexto institucional, na comunidade ou ao domicílio, tendo em conta o serviço em que está integrado e as necessidades do grupo e dos indivíduos, com vista a melhorar a sua qualidade de vida e a qualidade da sua inserção e interacção social.
  • Desenvolver actividades diversas, nomeadamente ateliers, visitas a museus e exposições, encontros desportivos, culturais e recreativos, encontros intergeracionais, actividades de
    expressão corporal, leitura de contos e poemas, trabalhos manuais, com posterior exposição dos trabalhos realizados, culinária, passeios ao ar livre.
  • Promover a integração grupal e social e envolver as famílias nas actividades desenvolvidas, fomentando a sua participação.
  • Fomentar a interacção entre os vários actores sociais da comunidade articulando a sua intervenção com os actores institucionais nos quais o grupo alvo/indivíduo se insere.
  • Acompanhar as alterações que se verifiquem na situação dos clientes/utilizadores e que afectem o seu bem-estar.
  • Elaborar relatórios de actividades.
Poderá uma formação ao nível do ensino secundário preparar devidamente para o exercício das funções e actividades defenidas neste perfil de saída? E se tal for possível que outras funções e actividades poderão ser desempenhadas por animadores socioculturais com formação ao nível do ensino superior? Tenha-se presente que os autores deste perfil não se coibiram de utilizar os verbos "diagnosticar", "analisar", "planear" e otros que remetem para funções que, inevitavelmente, exigem uma formação teórica sólida.
Não tenho, porém, a mesma impressão do professor Avelino Bento em relação à empregabilidade dos licenciados em Animação Sócio-cultural. Julgo que a mesma tem sido amplamente "disfarçada" com os estágios profissionais, após os quais os recém-licenciados enfrentam sérias dificuldades na obtenção de um emprego devidamente qualificado e remunerado, e não-precário, face às suas habilitações académicas e profissionais. Esta situação poderá, mesmo, agravar-se num futuro próximo pelo efeito conjugado de uma crise cada vez mais presente com o aparecimento de uma tendência crescente de preferência de técnicos polivalentes, naturalmente menos especializados, que possam assegurar o desempenho de múltiplas tarefas e funções. Recordo, como já várias vezes afirmei, que é esta a fundamentação teórica da reestruturação das carreiras da função pública que estará consumada no início do próximo ano.

Ainda que, e não posso deixar de o referir, e desse modo, subscrever também as afirmações que o Professor Avelino Bento faz, no final do artigo citado, de que a formação e a prática dos Animadores Sócio-culturais sempre se caracterizou pela polivalência, facto que poderá ser, deste modo, um trunfo nos tempos que se aproximam.
PS: Não sei o que dizer de não vislumbrar nos recursos pedagógicos sugeridos nos referidos referenciais de formação, nenhuma das poucas obras sobre Animação Sociocultural de autores portugueses disponíveis no nosso mercado (Marcelino Lopes ou luis Jacob, por exemplo).

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